Do livro Baile de Luz, de Cláudio Aguiar
De uma ideia que Leopardi colheu do velho de Quios
A Marco Luchesi
Diz o poeta, enquanto o tempo passa:
“– Humana coisa pouco tempo dura”;
Mas muitos falam que nela perdura
Algo que fica e não destrói a traça.
Juízo assim, amigo, jamais faça,
Pois ledo engano sobe a grande altura
E afeta aquele que não tem a cura,
Deixando-o triste e sem nenhuma graça.
Cuidar do espírito e zelar a alma;
Rejeitar vida mansa, sempre calma,
Porque ao inferno vai o que fenece.
Se não quiseres assim caminhar,
Sonhai que a vida nunca vai passar
E que se lembra quem de nós esquece.
Do livro Oráculos para um mundo invisível,
de Cláudio Aguiar
Olinda manga
Olinda manga, oh, tem manga!
Como tem todo lugar;
Lá não apenas se vê
A manga que vai chupar.
Olinda agora é só manga
Nos quintais esvoaçantes,
Balançam livres ao sol,
Verdes, de vez e maduras,
Entre as folhas em fartura.
Olinda manga, oh, tem manga!
Em outubro bem floradas
As mangueiras só esperam
Novembro para vingarem.
A noite também ajuda
Quando o sereno avança
Gota a gota a refrescar
O calor do dia claro
Que amanhã irá voltar.
Olinda manga, oh, tem manga!
O ar dali se embriaga
Com perfume diferente,
Que até se vê sem olhar!
E dessas mangas tão lindas,
Vencido o fogo que arde,
Ouro floresce em dezembro
Nas folhagens altaneiras,
Mas esmaece em janeiro.
No quintal de minha casa
Tem duas mangueiras frondosas:
Duma provei: são espadas!
Doutra eu vi: são das rosas!
Olinda manga, oh, tem manga!
Que não se pode contar.